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26.10.24, 16:30, Mesa redonda, 20:00, Concerto, Carnaxide (PT)
Programa
Michael Levinas (1949, França)
Les Invariants [2021]
Première clairière: Le Choral en larmes [ c. 4 min]
Lou Harrison (1917-2003, EUA)
The Song of Queztecoatl [1941, c. 8 min]
Fugue for Percussion [1942, c. 5 min]
Luís Tinoco (1969, Portugal)
Spiralling [2020, c. 13 min]
Lou Harrison (1917-2003, EUA)
In Praise of Johnny Appleseed [1942, c. 15 min]
Carlos Caires (1968, Portugal)
Quattro [2005, c. 14 min.]
Michael Levinas (1949, França)
Les Invariants [2021]
Cinquième clairière: Le Choral en larmes 2 [ c. 4 min]
Intérpretes: 5 músicos.
Duração: 70 minutos (aprox.=
Créditos
Autor: Lou Harrison, Carlos Caires, Mark André, Michael Levinas, Luís Tinoco
Direção artística: Miquel Bernat
Drumming-GP: André Dias, percussão, Carlos Caires, eletrónica em tempo real, João Braga Simões, percussão
, Pedro Góis, percussão
Produção e organização: CROMA
Notas
LES INVARIANTS, CINQ CLAIRIÈRES
para 3 instrumentos de lâminas temperadas
(1949)
Michaël Levinas
O termo invariante, “aquilo que é constante, fixo e estável” é um conceito utilizado em particular na matemática, na física e na linguística. O advento do temperamento igual no final do período barroco introduziu este conceito de invariante na escrita musical dos compositores, particularmente a partir de J.S. Bach.
A estabilidade de temperamento que permitiu o desenvolvimento e a organização formal do sistema tonal constituiu a base de uma linguagem baseada em escalas de altura estáveis e invariáveis, permitindo formas modulares e complexas, cujas descobertas fizeram parte da história da música europeia do século XIX.
Mas este século XIX foi também o início de outra modernidade musical, a dos novos fabricantes de violinos, da investigação acústica, abrindo caminho no século XX à descoberta de sons, eletrónica e percussão incríveis como a de Varèse e Messiaen.
O conceito de invariante não é anacrónico. A organização das escalas estabilizadas abre possibilidades harmónicas formais, temporais e polifónicas, baseadas noutros princípios moduladores (a que chamo “inúmeras clareiras” destas modulações) e hierárquicas que as modalidades iniciais do sistema tonal. A própria estrutura da escrita baseada em invariantes não é um simples regresso ao espírito do fim do Barroco. É uma busca criativa por algo para além do timbre e uma forma de abstração musical que abre também caminho para a transcrição da obra libertada da sua fortíssima identidade sonora.
Escrever uma peça de percussão para três lâminas temperadas é um ato de escrita e uma exploração radicalmente contemporânea deste conceito de invariante.
Michael Levinas
THE SONG OF QUETZALCÓATL
(1941)
Lou Harrison
Harrison concluiu Song of Quetzalcóatl a 6 de fevereiro de 1941 e foi estreado no seu vigésimo quarto aniversário (14 de maio de 1941) num concerto que ele e Cage apresentaram no California Club, em São Francisco. Ao contrário de Cage, Harrison estava comprometido com a melodia como um dispositivo expressivo, e as suas obras para percussão têm normalmente temas auditivamente reconhecíveis. Os próprios títulos das suas obras destacam o seu conteúdo lírico.
Como em muitas obras de Harrison, a inspiração para esta peça foi visual, neste caso, “um pequeno livro de reproduções de códices mexicanos”. Entre as imagens que chamaram a atenção de Harrison estava a Serpente Emplumada, uma divindade azteca.
A obra atravessa três grandes secções: uma abertura tranquila, uma parte central energética e uma recapitulação. Após uma entrada forte em uníssono, Harrison introduz um tema de abertura suave tocado em contraponto por conjuntos de cinco copos e cinco travões suspensos. Na secção central, os vários temas sincopados de semicolcheias e colcheias interagem e acabam por evoluir para uma série de ostinatos simultâneos, terminando com um dramático clímax contrapontístico. A Canção de Quetzalcóatl termina com a recapitulação da secção inicial.
FUGUE
(1942)
Lou Harrison
Harrison compôs a sua Fuga para percussão no mesmo ano do Cântico nº 3, no entanto a obra era tão difícil que não foi interpretada em concerto até à década de 1960.
Nesta obra, Harrison segue os princípios do contraponto barroco, traduzindo intervalos melódicos em proporções rítmicas correspondentes. Por exemplo, a primeira e a segunda entrada de um motivo de fuga tradicional estão relacionadas pela quinta, um intervalo que vibra na proporção de 3 para 2. Harrison relacionou assim as duas primeiras entradas do seu tema de fuga numa proporção rítmica de 3 para 2.
Assim, o tema de abertura, que é tocado por um metalofone, é procedido por taças tibetanas em valores de notas um terço mais longo. A terceira entrada, tocada pelos triângulos, surge numa proporção de “oitava” para com o tema inicial, isto é, a metade do tempo do tema de abertura. Já a quarta entrada, tocada pelos bell coils, emerge da relação de”oitava” do tema das taças tibetanas. Daqui em diante a peça desenvolve-se ritmicamente e intensamente até ao clímax dado pela caixa de madeira, para depois iniciar a desintegração temática e desaguar no som da serra com arco, voltando à sonoridade do início da obra.
SPIRALLING
(2020)
Luís Tinoco
Spiralling é uma encomenda do Festival Internacional da Póvoa de Varzim para ser estreada na sua 42a edição (2020), pelos músicos do Drumming GP.
Com uma duração aproximada de dez minutos, a peça é escrita para três percussionistas que partilham dois vibrafones e percorrem os vários registos do(s) instrumento(s) em movimentos ondulantes e circulares. Na raiz destas espirais, está uma variação de uma linha melódica retirada de ‘Archipelago’ – uma peça para vibrafone solo e tubos wah-wah, que escrevi em 2019 para o percussionista Miquel Bernat. O carácter aquático dessa peça surge aqui recuperado como ponto de partida para uma música que, não fazendo uso de outro instrumento para além do vibrafone, explora, contudo, soluções tímbricas variadas, através do recurso a diferentes baquetas, arcos de violoncelo e técnicas de vibrato.
Spiralling é dedicada a Claire Irwin
Luís Tinoco
IN PRAISE OF JOHNNY APPLESEED
(1942)
Lou Harrison
Ao longo da sua carreira, Harrison colaborou com vários coreógrafos e bailarinos como Jean Erdman, Carol Beals ou Lester Horton. O espírito criativo e artístico da dança contemporânea americana marcou várias das suas obras. Assim surgiu “In Praise of Johnny Appleseed”, na forma de um ballet original escrito em 8 andamentos para três percussionistas.
A obra tem um caráter tribal, vibrante e dançante, próprio das obras para dança de Harrison. Foi escrita para uma instrumentação que evoca a cultura popular com instrumentos como o balafon, as peles naturais, a flauta de pan, as maracas e chocas afinadas e tem uma estrutura flexível, permitindo aos intérpretes definir a ordem de execução de andamentos e, inclusive, a ordem das secções dentro de cada andamento, tornado cada performance num momento único.
QUATTRO
(2005)
Carlos Caires
A Peça Quattro, encomenda da OSN-RAI/Centro Tempo Reale, foi estreada em Turin (Festival RAI Nuova Musica 2005) pelo Gruppo di percussioni OSN RAI, sob a direcção de Pierre-André Valade.
Quattro é uma peça escrita em quatro andamentos, ligados entre si, sem interrupção.
A escrita de cada andamento dá especial atenção a um tipo (ou família) de instrumentos, procurando cada andamento caracterizar uma atmosfera diferente. Para mim, serviu a analogia das quatro estações (Inverno, Primavera, Verão e Outono).
O grupo de quatro percussionistas funciona como um único “instrumento”, que se distribui pelos instrumentistas, pelo palco e pelo espaço. A eletrónica, toda ela construída sobre sons de percussão, é um segundo instrumento que comenta o primeiro. É, no fundo, como se se tratasse de uma lupa, que amplia os gestos instrumentais dos quatro músicos em termos de volume sonoro, distribuição espacial e virtuosismo.
Carlos Caires
Parcerias e apoios
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