A prodigiosa singularidade da figura do compositor italiano Franco Donatoni emerge e corporiza, ao mesmo tempo, a história da composição contemporânea, através da riqueza assombrosa das suas fases de criação, adesão e rupturas e com as diversíssimas tendências por que foi passando. Desde o post-bartokiano das primeiras obras, ao período mais estritamente serialista, passando pela experimentação aleatória e pela etapa negativa do ‘decomponieren’, até culminar na renúncia à composição para vestir a figura do mero ‘copista’.
A despeito de os seus materiais serem atemáticos, microscópicos e inimitáveis pela natureza interválica individual e absolutamente singular, as formidáveis cambiantes da sua linguagem musical, tornam o compositor italiano num epígono dos grandes mestres do contraponto renascentista.
Considerando-se a si mesmo como um ‘artesão’, Donatoni parte do conceito-base do próprio “procedimento enquanto forma”, luz que vai transformar velhas composições em novas obras, atingindo uma poética sumamente pessoal, em que as partes se juntam para formar um todo holístico.
A música de Donatoni torna-se, pois, pela pluralidade da sua inspiração, procedimentos e recursos, simultaneamente nervosa e deslumbrante, vertiginosa e em permanente mutação. A sua linguagem transformista, de incessante refinamento, cria um estilo próprio e uma escola compositiva de influência determinante em toda uma geração de compositores. São estas características que as peças reunidas neste programa se propõem ilustrar.
As peças deste programa são deste período tão prolí co do compositor e cada uma de elas explora um o um conjunto surpreendente de instrumentos passando por todo o cro- matismo tímbrico da percussão.