O sentido de mestiçagem cultural e multiculturalismo surgido ao longo do século XX com o desenvolvimento dos meios de comunicação, o desejo de superação cultural das fronteiras políticas e étnicas assim como a necessidade de alargamento da linguagem musical, provocou nos autores do século XX (com Debussy como precursor) um considerável fascínio pelas manifestações musicais, literárias, filosóficas e religiosas de países asiáticos, gerando uma subsequente influência na criação artística.
Reciprocamente, muitos compositores orientais aderem às correntes de vanguarda musical ocidental, estudando nas escolas europeias e americanas e em muitos casos aí se radicando.
Entre as intermináveis variantes possíveis, o programa ilustrativo deste encontro de culturas e civilizações propõe John Cage e Lou Harrison, compositores forte- mente ifluenciados pelo Budismo Zen, que compõem conjuntamente Double Music enquanto libelo sobre a
desvinculação do sentido de propriedade. Martin Bresnick pela síntese mágica de um prodigioso ecletismo cosmopolita numa belíssima página musical.
Do outro lado, chega a compositora coreana Younghi Pagh-Pann e as suas evocações de ambientes oníricos de enorme exotismo, criados pela mistura da electrónica com os instrumentos tradicionais do seu país. E, para fechar, Tan Dun, o mais internacional dos compositores chineses, emigrado e residente em Nova Iorque, numa preciosa elegia para Violoncelo solo e 4 percussionistas, um discurso musical em torno dos massacres da Praça Tiananmen.