O Som das Estrelas, o Som dos Oceanos

Em 1967 um jovem astrónomo detecta no céu um sinal de rádio em forma de impulsão periódica. Esta descoberta fez sensação! Os astrofísicos revelam esta verdade surpreendente: os sinais são sons emitidos por um pulsar, um resíduo fantástico compactado, engendrado por explosões da supernova que desintegram estrelas massivas. O céu não é o espaço aprazível que desde Aristóteles cou no inconsciente humano, a ‘Música Celestial’ não é o que ainda está na mentalidade das pessoas, não podemos continuar a ver o céu desta maneira, desenganemo-nos e sejamos coerentes com as novas descobertas: o céu inter-espacial é uma fúria de movimentos, uma turbulência de ondas em fluído constante. Estas ondas de rádio captadas podem ser transformadas em sinais eléctricos, que tanto podem excitar a membrana de um altifalante como de ser ouvidas pelo ouvido humano.

O pulsar Vela, que explodiu há 12.000 anos e os humanos puderam observar no céu, e o Pulsar 0239+54, que explodiu há 5 milhões de anos guiaram esta navegação musical e constituíram o ponto de partida da partitura deste grande compositor Gérard Grisey, impulsionador do movimento espectral, inventor da música do nosso futuro. A presente obra, ao propor um sofisticado jogo sonoro e luminoso em torno do acontecer científico na sua dimensão de enigma humano, situa-nos na dimensão aventurosa do futuro e, ao mesmo tempo, na introspecção do nosso passado, anterior a nós próprios. Uma subtil viagem musical dirigida, pois, ao epicentro da condição humana.

Este concerto remeterá também para invocações in- temporais do imaginário português, e dos povos com ligação aos mares e oceanos, com a inclusão da nova peça do compositor António Chagas Rosa construída a partir de sons pertencentes e descobertos nas profundezas dos oceanos.

Abracemos e demos as boas-vindas ao ignoto – o enigma e a descoberta. Redescubramos as sonoridades provenientes dos dois extremos-limites (Céu e profundeza dos Mares) e aprendamos a viver nesta nova realidade sonora.