John Cage (1912- 1992) filósofo, inventor, ritualista, compositor, estudioso do mundo e do universo… Homem visionário e uma das figuras fundamentais na evolução do pensamento musical do Século XX.
A criação e o pensamento por trás da obra de John Cage marcam uma renovação e simultaneamente
uma ruptura com os princípios estruturais e criativos da música da sua época. Desacreditado da tradição, rompeu formas e convenções e alienou a harmonia enquanto matéria principal da composição, assumindo um papel pioneiro e de força contrária ao instalado pensamento dodecafónico, com Schönberg, mestre de Cage, como principal gura: “I certainly had no feeling for harmony, and Schoenberg thought that that would make it impossible for me to write music. He said, ‘You’ll come to a wall you won’t be able to get through.’ So I said, ‘I’ll devote my life to beating my head against that wall.”
A música de John Cage, livre das amarras formais, começa então a organizar-se com sons e silêncios próprios e a estender-se num pendor temporal único, que até aí não fazia parte do universo criativo musical com a condição de elemento, mas sim de consequência. Estavam assentes as bases do minimalismo e da música repetitiva que apareciam mais tarde como uma fortíssima corrente na música americana. O Piano Preparado é o exemplo mais conhecido das capacidades imaginativas e criadoras de Cage na incessante procura da matéria. Também foi por ele impulsionado o ensemble de percussão nas suas múltiplas e várias facetas. A utilização dos sons quotidianos, do ruído aparentemente não musical, do silêncio, do aleatório, do casual, permitiram que a criação ‘Cageana’ não tivesse limites semânticos de qualquer índole, aportando uma carga cultural, losófica, ritual, poética e de mensagem, só se aproximando conceptualmente das artes plásticas e da dança de então, cujo vanguardismo e aparente inesgotabilidade de meios fascinavam Cage.
Poderá dizer-se, sintetizando, que foi tarefa deste vulto maior do Século XX organizar e reorganizar os sons da con- dição humana e apresentá-los depois, lembrando o ouvido que a música é o silêncio e a matéria que nos compõe.