Drumming & Luís Tinoco

ARCHIPELAGO apresenta ao vivo obras gravadas no CD homónimo que foi lançado em 2019 pela editora norte-americana Odradek. Disco vencedor dos Prémios Play para melhor CD de música clássica/erudita 2019 e que obteve as melhores críticas nacionais e internacionais.

Este projeto resulta de uma longa colaboração entre o compositor Luís Tinoco e o Drumming Grupo de Percussão e apresenta obras para um variado leque de combinações instrumentais, desde solos a quartetos de percussão passando por trios a quintetos de percussão com eletrónica. 

Archipleago  inclui obras para ensemble de percussão, como Short Cuts, originalmente escrita para o Quarteto de Saxofones Apollo e depois transcrita pelo compositor para quatro percussionistas, e Mind the Gap para Marimba solo dedicada a Pedro Carneiro e inspirada nas viagens de metro londrinas. Fados Geneticamente Modificados e Zoom in – Zoom out foram encomendados pelo Drumming GP. Fados Geneticamente Modificados inclui sons pré-gravados na exploração do Fado tradicional, enquanto que Zoom in – Zoom out evoca subtilmente os ritmos e melodias da música popular brasileira. Ends Meet, para marimba solo e quarteto de cordas, explora uma ideia de música circular em que os extremos se tocam, e, a obra mais recente, Archipelago, dedicada ao talentoso Miquel Bernat, combina vibrafone com tubos wah-wah, criando efeitos microtonais fascinantes. teel Factory é uma obra excitante para steel drum ensemble, dedicada ao Drumming GP, grupo que se formou há 20 anos, em 1999, e desde então se tem afirmado como um dos mais originais e dinâmicos projectos de música contemporânea na Península Ibérica e no mundo.  Em Portugal conquistou rapidamente a simpatia do público, dos músicos e agentes culturais, apresentando-se nas mais destacadas salas e festivais de música do país.

Programa

Short Cuts (F), para quarteto de percussão (2004)

Dedicado ao Apollo Saxophone Quartet Encomenda do ASQ com o apoio do Arts Council of England North West

Short Cuts foi originalmente escrita scrita para quarteto de saxofones. Desde a sua estreia, em 2004, tenho feito várias transcrições para diferentes combinações instrumentais, entre as quais se inclui a versão “F” para quatro percussionistas (dois vibrafones e duas marimbas), estreada pelo Perkool Quartet. A peça pretende jogar com o duplo sentido possível de “short cuts”. Isto é, tanto com a ideia de gestos musicais acutilantes, como com a ideia de se poder tomar um um caminho diferente, mais curto, para se chegar a um determinado destino.

Mind the Gap, para marimba solo (2000)

Dedicado a Pedro Carneiro

I. Keep Left

II. Next Train Approaching

III. Currently Out of Order

IV. Keep Right

Mind the Gap é uma peça sobre Londres, com pessoas a andar pelas ruas ou a viajar de um lugar para outro. De certo modo, esta é também a minha própria viagem por esta cidade, observando pessoas condicionadas por semáforos ou sinais como ‘Mind the gap’, ‘Stand on the right’, ‘Walk on the left’, entre outros. Idealmente, deveríamos poder andar livremente e sem interrupções – sem termos os movimentos condicionados por indicações “parar-andar-parar-andar”- e, se possível, pelo caminho irmos colhendo maçãs de umas árvores. Mas, por outro lado, existe também algo empolgante no movimento das cidades, com o seu tráfego, as carruagens que se aproximam e afastam, os longos percursos que se desenham sobre e por baixo do solo. Esta peça está dividida em quatro pequenos andamentos, cada um relacionando-se com uma indicação ou sinal específico. Os andamentos extremos ‘Keep Left’ e ‘Keep Right’ – estão escritos para o lado esquerdo e direito da marimba, respectivamente. O intérprete tenta afastar-se do seu registo grave ou agudo mas a música “empurra-o❞ para que se mantenha no lado esquerdo ou direito, na sua posição original. O Segundo andamento – ‘Next Train Approaching’ – é um longo e silencioso travelling nocturno, a preto-e-branco. A viagem evita atravessar Piccadilly Circus, para se manter silenciosa. Finalmente, o terceiro andamento ‘Currently Out of Order’ – aborda a hesitação. Múltiplas direcções disponíveis, sem que seja necessário ou se deseje escolher uma em particular.

Fados Geneticamente Modificados, para quarteto de multipercussão e sons pré-gravados (2018)

Encomenda do Drumming Grupo de Percussão

I. Os teus olhos

II. Volta

III. Camélias

Esta partitura foi escrita em resposta a uma encomenda do Drumming Grupo de Percussão, que me desafiou a criar uma música que estabelecesse uma ligação directa com o fado. Este é um género com uma linguagem harmónica rudimentar e que, ao contrário de outras expressões musicais de origem popular, não é particularmente elaborado na sua construção rítmica. A sua maior riqueza reside, essencialmente, na ornamentação melódica e na expressão vocal dos cantores. É precisamente desse registo que nascem as maiores surpresas, frequentemente inspiradas em textos que nos relatam desgostos amorosos, sentimentos de tristeza e nostalgia, num contexto de fatalidade. Escrever para uma formação de quatro percussionistas, sem a presença de uma voz solista, significava, em parte, ficar dependente de outros para parâmetros que, para mim, são menos inspiradores no fado. Como tal, procurei abordar alguns aspectos mais simples, não como uma “fatalidade” para a qual a solução residisse num trabalho de enriquecimento da linguagem rítmica e harmónica, mas colocando-os num primeiro plano narrativo e assumindo a sua rudimentaridade como ponto de partida para cada andamento. Recorri também à manipulação de excertos de certos de antigas gravações disponibilizadas no Arquivo Sonoro do Museu do Fado, modificando a sua estrutura, editando fragmentos, criando loops, e destacando alguns vocábulos ou pequenas frases como “os teus olhos são tão tristes”, “tenho uma luz que me guia”, “volta, que eu já perdoei”, “viver contigo”, entre outras. Maioritariamente, utilizei excertos de Fado da Luz, cantado por Alexandre Resende (1° andamento); Último Pedido, por Berta Cardoso (2° andamento); e Camélias, na voz de Corina Freire (3° andamento). No entanto, no processo de manipulação genética destas fontes, podemos ainda identificar algumas inserções de outros fragmentos com as vozes de Alberto Reis, Emília Rodrigues, Jorge Bastos e Manassés de Lacerda.

Zoom in - Zoom out, para trio de percussão (2010)

Dedicado a Miquel Bernat

Encomenda do Drumming Grupo de Percussão

Zoom in – Zoom out, para vibrafone, duas marimbas e dois bombos, foi escrita entre Dezembro de 2009 e Janeiro de 2010 para integrar o projecto Desconstruindo a Bossa, concebido pelos músicos do Drumming Grupo de Percussão. Mais do que citar materiais pré-existentes, mretirados da música popular brasileira, procurei criar uma peça que, de forma quase imperceptível, transportasse a nossa escuta para situações musicais relacionáveis com o universo da música brasileira, quer pelo tipo de padrões rítmicos e acentuações utilizadas, quer pela construção gradual de breves apontamentos melódicos. À medida que percorrem as diferentes secções da peça, os músicos vão-se aproximando desse mesmo universo como se estivessem a focar os materiais que estão na na base da composição para, logo de seguida, o desconstruírem, obrigando a nossa escuta a desfocar- se e, simultaneamente, a procurar o momento ou construção seguinte.

Ends Meet, para marimba e quarteto de cordas (2002)

Encomenda da Câmara Municipal de Matosinhos

I. Tempo giusto, quasi meccanico

II. Libero e delicato

III. Libero e tranquillo

IV. Vivo

Ends Meet nasceu de um convite do percussionista Pedro Carneiro e está estruturado em quatro andamentos numa série de círculos que partilham material entre si. A música não segue uma estrutura com um desenvolvimento no sentido tradicional do termo e insiste em regressar aos seus pontos de origem, tocando os seus fins. Esta ideia de continuum surge logo no primeiro compasso, com a música a soar como uma corrente – como se se pudesse ter iniciado noutro qualquer ponto no tempo – evitando um gesto introdutório. Num segundo nível estrutural, pode ser observada uma clara relação entre os andamentos extremos no que se refere ao ritmo, gesto, textura e organização das alturas – mas, também, entre o segundo e terceiro andamentos no que se refere à proporção e ao desejo de fundir os timbres da marimba e do quarteto de cordas.

Archipelago, para vibrafone e tubos wah-wah (2019)

Dedicado a Miquel Bernat

Archipelago foi escrito para vibrafone solo, expandido por um conjunto de oito tubos wah-wah afinados com alturas precisas. A afinação dos tubos, porém, não é exactamente temperada, criando-se assim alguns desfasamentos microtonais com as mesmas notas, quando tocadas no vibrafone. A ideia de arquipélago surge aqui pelas sonoridades líquidas dos timbres utilizados, mas, também, por se tratar de uma peça estruturada em pequenas “ilhas” que nos apresentam um conjunto diverso de timbres e cores, produzidos com diferentes baquetas, arcos de contrabaixo, ou com as mãos do instrumentista.

Steel Factory, para ensemble de steel drums (2006)

Encomenda do Drumming Grupo de Percussão

Steel Factory procura responder ao desafio de escrever para um ensemble de steel drums. Desafio, por se tratar de um instrumento com características bem diferentes daquelas a que um compositor ocidental está habituado, nomeadamente nas invulgares afinações de cada naipe na família dos steel drums, dos baixos ao lead (mais

agudo). Para além das invulgares disposições das notas nos diversos instrumentos que formam o ensemble, a própria afinação de cada som não é “perfeita” (i.e., na perspectiva da afinação temperada). Naturalmente, esta “imperfeição” é um dos aspectos mais ricos na sonoridade resultante destes instrumentos que levantam, também, outros desafios no domínio de outros parâmetros como o controle dinâmico, sustentação do som, polifonia das vozes, etc. Mais surpreendente, ainda, é o desafio do intérprete que quase se vê obrigado a reaprender o instrumento e a memorizar toda uma série de posições e sequências ou padrões melódicos, cada vez que estreia uma nova peça.

Para Steel Factory, para além do interesse pelas características e possibilidades deste instrumento, procurei explorar a sua sonoridade metálica, quase “industrial”. Principalmente na região média e grave, onde o rigor da afinação da nota é menos evidente, é possível criar sonoridades que nos transportam para um universo extra-musical, mais mecânico, por vezes mais próximo dos sons electrónicos. Procurei também explorar uma dimensão coreográfica e teatral da percussão, com os intérpretes a utilizar o seu corpo e movimento, como uma extensão do imaginário industrial e mecânico que prevalece ao longo da peça. Para reforçar este tipo de gesto e de sonoridade, combinei o ensemble de steel drums com um conjunto de bongós e placas de aço (sixens). Steel Factory é dedicada aos músicos do Drumming Grupo de Percussão que, com rara e generosa paciência!, foram esperando e esperando por uma peça que demorou a sair da fábrica…

*Os programas deste projecto podem ser alterados o acrescentado com outras peças dependendo das necessidades do Programador e a Direcção Artística

Créditos

Autor: Luís Tinoco

Direção artística: Miquel Bernat

Percussão: Miquel Bernat, André Dias, Pedro Góis, João Tiago e Pedro Oliveira

Som: Suse Ribeiro 

Luz: Emanuel Pereira 

Produção: ARTWAY

Multimédia

Foto

Vídeo

06/06/2023, CCB – Centro Cultural de Belém, Lisboa (PT)

03/03/2020, Participação no programa Cultural: Muito Barulho Para Nada-da RTP2 para a apresentação do CD Archipelago, Lisboa (PT)

28/02/2020, Auditorio de Espinho, Espinho (PT)

06/12/2020, 20 Anos Drumming-GP/Lançamento do CD Archipelago, Casa das Artes , Porto (PT)

28/11/2020, Lançamento do CD Archipelago, LX Factory, Lisboa (PT)

Instrumentos

Short Cuts: 2 marimbas (5 oitavas) ; 2 vibrafones 

Mind the Gap: 1 marimba (5 oitavas) 

Fados Geneticamente Modificados: sons pré-gravados [sistema de som / altifalantes + computador + in ear (quatro sets) com click track] 2 marimbas (5 oitavas) ; 1 vibrafone; 1 aluphone; 1 (lead) steel drum; 4 (bass) steel drums [ossia marimba]; cow bells (afinada em D2; F3; C4;); crotales; wah-wah tube (afinado em F#3); sand paper (quatro sets); 3 melodicas; 8 arcos [violoncelo ou contrabaixo] 

Zoom in – Zoom out: 2 marimbas (5 oitavas) ; 1 vibrafone; dois bass drums (com pedal) 

Archipelago: Vibrafone e um set de 8 wah-wah tubes (E3; F#3; C4; E4; G4; C#5; E5; F#5) 

Steel Factory: 7 steel drums (de soprano a baixo); 8 bongoes; 1 bass drum (com pedal); 8 sixxens; 4 metal tubes 12 estantes de música 

Riders Técnicos

Som

Luz