Crítica ClockWork, Guimarães Jazz

Aquilo que Bernardes explora, de forma tão desconcertante quanto fascinante, ao lado do Drumming, é todo um conjunto de técnicas a que Ligeti recorria, como a ideia de “multitempos” – ou seja, cada músico, auxiliado por metrónomos individuais (e inaudíveis para o público), toca em tempos distintos, criando vários fluxos musicais e discursos paralelos. O início do concerto, aliás, parece existir num limbo entre céu e terra, vibrafones do Drumming num plano celestial, o piano (Bernardes), o contrabaixo (António Augusto Aguiar) e a bateria (Mário Costa) num patamar mais terreno e robusto. Mas, logo a seguir, descobrimos como pode coexistir uma secção rítmica cindida, partida em duas. É todo um exercício que poderia resultar puramente teórico e intelectual, mas que se revela altamente desafiante e estimulante, como se a atenção do público tivesse de tentar encontrar conforto numa música que o nega em permanência e que lhe pede concentração total.