Lux-Lucis

Mais do que um fenómeno físico a luz tem, na nossa cultura, uma multiplicidade de conotações: ilustração do estado mental, do saber, da orientação solar, elemento arquitectónico fundamental na modelação do espaço e um elemento pictórico basilar em alguns períodos da história de arte, entre outras. Sem dúvida a sua importância é imensa, porque a luz é, sobretudo, energia: um dos fundamentos da sociedade actual. Chegando mesmo a considerar-se um dos elementos do conhecimento que nos distingue dos animais irracionais. A expressão “dar à luz” é nascer, é dar Vida!

A visão sendo o sentido envolvido diretamente com a luz, que ao incidir no olho, nosso orgão com mais terminações nervosas, converte as ondas de luz em impulsos elétricos que envia ao cérebro e cujo papel é dominante para a interpretação do mundo pelo ser humano, e por isso considerado a janela do conhecimento. Em conjunto com o ouvido, segundo orgão com mais terminações nervosas, é o que mais zonas diferentes do cérebro incita, se pode afirmar que são os sentidos – a visão e a audição – que mais fortemente nos relacionam com a natureza e com o mundo exterior, e a arte tem também essa qualidade de ligar-nos ao mundo.

Este espetáculo parte e considera a luz como o primeiro elemento criativo moldando a luz como poesia do espaço; o traço de luz é o guia do som e o som é o guia da luz. Cada um destes fenómenos físicos convertidos em arte servirá de guia mútuo numa sinestesia e sinergia contagiante para, assim, melhor compreender e iluminar o nosso entendimento do fenómeno musical acústico. E do mundo.

Home Is Where Your Heart Is

Vasco Mendonça. Home is where your hearts is não é tanto o título de uma peça, como a designação de um processo – o de criar fantasias performativas a partir de diferentes textos (ou fragmentos).

Muitos textos (ou passagens desses textos) têm uma espécie de vida secreta, que pode ser mais ou menos parecida com o que aparentam ser; são um conjunto de indícios de um potencial acto público. A natureza deste potencial varia muito: de pessoa para pessoa, com o tempo, com a disposição. Os textos que escolhi para esta apresentação podiam ser mais ou menos, podiam ser outros, estar por outra ordem. Podia ser só um, ou os muitos que ainda não existem (e talvez venham a existir no futuro). Achei que a tirania, a infância, o activismo e o perigo de cantar karaoke seriam um bom ponto de partida.